quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Literatura de Auto-Ajuda: O Segredo da Fraude


No dia 24 de novembro de 2007 realizamos mais um encontro do Triep.
O tema - a fraude da literatura de auto-ajuda - foi abordado do ponto de vista da psicanálise.
Partimos da idéia que esse tipo de literatura, ao alienar ainda mais o sujeito contemporâneo acometido de narcisismo, afasta-o de pensar sua problemática, refletir sobre a origem da sua infelicidade.

Esse sujeito narcisista, seduzido pelas imagens que o mundo propõe como identidade, dá a si mesmo a ilusão de uma liberdade irrestrita, se toma por senhor de um destino cujo sentido reduz a reinvidicação de um objeto. Objeto concebido, imaginariamente, como promessa de felicidade absoluta.
A literatura de auto-ajuda, considerada por muitos como bênção, para alguns como piada, para nós é uma fraude.

Entendemos que ao aderir a ela o sujeito acometido desse traço comum à cultura atual - o narcisismo, passa a não teorizar sobre si mesmo, torna-se alheio à própria história e nega suas angústias mais constitutivas, para se lançar num mar de objetos de consumo dentre os quais a própria literatura de auto-ajuda.
Assim, náufrago de si mesmo, agarrado aos livros de auto-ajuda, se fragiliza passivo na ilusão de uma completude arbitrária, a serviço de seu sofrimento psíquico que o impede de reconhecer-se incompleto, humano.
O debate foi profícuo. O público abordou questões éticas, sobretudo, assim como algumas especificidades teórico-clínicas.
Questionou a postura dos profissionais da área psi em relação à literatura de auto-ajuda; e, também, se não haveria uma luz no fim do túnel, uma vez que, com o tempo os usuários desse tipo de literatura acabariam por se dar conta da fragilidade dessa proposta e do agravamento de seus sintomas.

Alguns fizeram aproximações entre a angústia provocada por uma pressão do mercado, que a cada minuto oferece mais objetos de consumo, e a demanda pela auto-ajuda.
Outros aproximaram Freud de Winnicott ao buscarem um paralelo entre o conceito de frizing e de narcisismo.

Não faltaram os que defenderam a literatura de auto-ajuda.

Até que alguém sintetizou da melhor maneira o tema do encontro, ao dizer que "a literatura de auto-ajuda ensina a não pensar, enquanto a psicanálise incentiva, exatamente, a reflexão sobre si-mesmo, seu contexto histórico e libidinal".