C I C L O D E
P A L E S T R A S
No dia 12 de setembro
de 2015, iniciamos o Ciclo de Palestras no TRIEP.
Colocamos na forma de
pergunta: Psicanalistas, psiquiatras e
psicólogos: como e com o que trabalham?
– a temática deste dia.
Trazemos aqui alguns dos
aspectos sobre a psicanálise, trabalhados pela colega psicanalista Ana Beatriz T. Facchini*.
Os tratamentos
psíquicos de modo geral são nomeados psicoterapias. Criou-se assim uma confusão
recorrente por conta disso...
A Psicanálise é uma
espécie de psicoterapia?
Freud, em seu artigo
de 1904 - “O método psicanalítico de Freud”, focaliza o problema da
psicoterapia e, como faz em outros textos da época, afirma que a psicanálise é
uma psicoterapia.
Porém, quando ele se
referia à psicoterapia era para contrastá-la aos meios curativos
físico-químicos existentes na época e, neste aspecto definia a psicoterapia como
o tratamento que se inicia na mente, ou o tratamento, seja de distúrbios
mentais ou físicos, através de medidas que atuem em primeiro lugar e
imediatamente sobre a mente humana.
Seu objetivo foi
diferenciar o trabalho que ele realizava das outras psicoterapias racionais e
sugestivas vigentes nesse período.
As inquietudes e
hesitações humanas foram compreendidas por Freud como decorrência da divisão estrutural do psiquismo em diversos sistemas, com
funcionamento regido por um conflito permanente entre forças opostas.
A originalidade
freudiana foi demonstrar de que modo o conflito psíquico estava em parte no
inconsciente, portanto oculto ao registro psíquico do Eu e a outra parte do
conflito, no consciente.
O inconsciente
freudiano é absolutamente diferente em relação à psicologia da consciência. Não
é o que temos de mais profundo, não é anárquico ou caótico. Não é aquilo que se
encontra abaixo do consciente.
Ele é uma forma de
articulação com leis próprias e o que o define não são seus conteúdos, mas o
modo como opera, impondo a seus conteúdos uma determinada configuração.
O inconsciente é constituído,
sobretudo de representações imagéticas e apesar de ser concebido como um lugar
psíquico, não significa um lugar anatômico ou corporificável.
Sendo assim, Psicanálise
e Psicologia possuem objetos de estudo distintos e a marca diferenciadora é o
conceito de inconsciente.
O inconsciente possui
natureza inesgotável, e se revela através dos seus efeitos que são: os
sintomas, atos falhos, chistes, sonhos, etc..
A regra fundamental do
tratamento psicanalítico é a associação livre, ou seja, dizer o que vier à mente
e do modo como isso se apresentar ao sujeito.
É se deixar falar para
que apareça o não dito, o indizível ou o irrepresentável, e assim irrompa algo
que possa ser tomado em consideração pelo analista e pelo analisando e, tornar-se
talvez algo elaborado mentalmente.
A fala, na situação
analítica não é como o falar do cotidiano que lança mão apenas de recursos de
linguagem. No tratamento analítico é considerada uma complexa variedade na
comunicação, pois por meio do enquadre analítico se instauram as condições
favoráveis ao trabalho do inconsciente e de sua linguagem – que não se
restringe exclusivamente à linguagem verbal ou da linguística.
Quem procura uma
análise vive um sofrimento, um sintoma que é aquilo que incomoda, provoca
desprazer e dor. O sintoma é sinal de que algo se passa, mas não é só
patológico, não é apenas fonte de sofrimento: pode ser também uma tentativa de
saída para a saúde que garanta certa ordem no sujeito.
Como na análise não se
toma objetivamente o sintoma a ser tratado ou eliminado, o paciente, à medida
que fala, reconhece seu inconsciente trazido à tona no processo analítico pelo discurso,
pensamentos ou palavras que o surpreendem com sua nova possibilidade de
teorização e significação.
Sendo assim,
dirigindo-se a um sujeito em sofrimento, o tratamento proposto pela psicanálise
não será de orientar, aconselhar e muito menos dizer o que deve fazer com a sua
vida. Não se trata de positivar todo pensamento nem apelar ao bom senso ou
ações óbvias. Por quê?
Porque o paciente já se
esforçou bastante antes de chegar a um psicanalista. Já se iludiu com várias
construções psíquicas, com várias teorias sobre o seu sofrer, se recriminou, se
puniu e tem dificuldades nos seus relacionamentos com o mundo. O paciente não
está do jeito que está porque não pensou direito ou lhe faltou ideias. Está
assim porque repete a mesma forma de pensar e essas repetições produziram uma
ruptura no ponto de equilíbrio de sua vida.
*Psicanalista. Graduada em Psicologia. Especialista em Psicologia
Clínica. Membro do TRIEP - Jundiaí.