segunda-feira, 28 de setembro de 2015

C I C L O   D E   P A L E S T R A S
                                                                                                      
No dia 12 de setembro de 2015, iniciamos o Ciclo de Palestras no TRIEP.
Colocamos na forma de pergunta: Psicanalistas, psiquiatras e psicólogos: como e com o que trabalham? – a temática deste dia.
Trazemos aqui alguns dos aspectos sobre a psicanálise, trabalhados pela colega psicanalista Ana Beatriz T. Facchini*.

Os tratamentos psíquicos de modo geral são nomeados psicoterapias. Criou-se assim uma confusão recorrente por conta disso...
A Psicanálise é uma espécie de psicoterapia?
Freud, em seu artigo de 1904 - “O método psicanalítico de Freud”, focaliza o problema da psicoterapia e, como faz em outros textos da época, afirma que a psicanálise é uma psicoterapia.
Porém, quando ele se referia à psicoterapia era para contrastá-la aos meios curativos físico-químicos existentes na época e, neste aspecto definia a psicoterapia como o tratamento que se inicia na mente, ou o tratamento, seja de distúrbios mentais ou físicos, através de medidas que atuem em primeiro lugar e imediatamente sobre a mente humana.
Seu objetivo foi diferenciar o trabalho que ele realizava das outras psicoterapias racionais e sugestivas vigentes nesse período.
As inquietudes e hesitações humanas foram compreendidas por Freud como decorrência da divisão estrutural do psiquismo em diversos sistemas, com funcionamento regido por um conflito permanente entre forças opostas.
A originalidade freudiana foi demonstrar de que modo o conflito psíquico estava em parte no inconsciente, portanto oculto ao registro psíquico do Eu e a outra parte do conflito, no consciente.
O inconsciente freudiano é absolutamente diferente em relação à psicologia da consciência. Não é o que temos de mais profundo, não é anárquico ou caótico. Não é aquilo que se encontra abaixo do consciente.
Ele é uma forma de articulação com leis próprias e o que o define não são seus conteúdos, mas o modo como opera, impondo a seus conteúdos uma determinada configuração.
O inconsciente é constituído, sobretudo de representações imagéticas e apesar de ser concebido como um lugar psíquico, não significa um lugar anatômico ou corporificável.
Sendo assim, Psicanálise e Psicologia possuem objetos de estudo distintos e a marca diferenciadora é o conceito de inconsciente.
O inconsciente possui natureza inesgotável, e se revela através dos seus efeitos que são: os sintomas, atos falhos, chistes, sonhos, etc..
A regra fundamental do tratamento psicanalítico é a associação livre, ou seja, dizer o que vier à mente e do modo como isso se apresentar ao sujeito.
É se deixar falar para que apareça o não dito, o indizível ou o irrepresentável, e assim irrompa algo que possa ser tomado em consideração pelo analista e pelo analisando e, tornar-se talvez algo elaborado mentalmente.
A fala, na situação analítica não é como o falar do cotidiano que lança mão apenas de recursos de linguagem. No tratamento analítico é considerada uma complexa variedade na comunicação, pois por meio do enquadre analítico se instauram as condições favoráveis ao trabalho do inconsciente e de sua linguagem – que não se restringe exclusivamente à linguagem verbal ou da linguística.
Quem procura uma análise vive um sofrimento, um sintoma que é aquilo que incomoda, provoca desprazer e dor. O sintoma é sinal de que algo se passa, mas não é só patológico, não é apenas fonte de sofrimento: pode ser também uma tentativa de saída para a saúde que garanta certa ordem no sujeito.
Como na análise não se toma objetivamente o sintoma a ser tratado ou eliminado, o paciente, à medida que fala, reconhece seu inconsciente trazido à tona no processo analítico pelo discurso, pensamentos ou palavras que o surpreendem com sua nova possibilidade de teorização e significação.
Sendo assim, dirigindo-se a um sujeito em sofrimento, o tratamento proposto pela psicanálise não será de orientar, aconselhar e muito menos dizer o que deve fazer com a sua vida. Não se trata de positivar todo pensamento nem apelar ao bom senso ou ações óbvias. Por quê?
Porque o paciente já se esforçou bastante antes de chegar a um psicanalista. Já se iludiu com várias construções psíquicas, com várias teorias sobre o seu sofrer, se recriminou, se puniu e tem dificuldades nos seus relacionamentos com o mundo. O paciente não está do jeito que está porque não pensou direito ou lhe faltou ideias. Está assim porque repete a mesma forma de pensar e essas repetições produziram uma ruptura no ponto de equilíbrio de sua vida.


*Psicanalista. Graduada em Psicologia. Especialista em Psicologia Clínica. Membro do TRIEP - Jundiaí.