No dia 23 de setembro de 2015 realizamos uma
palestra do TRIEP, ministrada pela psicanalista Leila Veratti* e acompanhada
pela psicanalista Daisy Lino**, com os pais de alunos da EMEB Jânio da Silva
Quadros, no Parque Eloy Chaves. O tema - LIMITES: FRUSTRAM, EDUCAM OU
TRAUMATIZAM? – foi abordado do ponto de vista da Psicanálise e os pais
presentes ao encontro participaram com perguntas, dúvidas e experiências
cotidianas com os filhos entre a idade de 4 a 5 anos.
Abaixo, alguns trechos da palestra abordados com os pais.
(...) “Que tipo de pessoa você deseja que seu filho seja?”
É uma pergunta importante e que precisa, primeiramente, ser respondida pelos
próprios pais, e não de modo vago, mas com precisão. Isso ajudará na hora de
decidir ou de observar-se na relação que se estabelece com a criança e o
limite.
Por exemplo, digo que quero que ele seja honesto, mas acho
graça e o justifico – “foi sem querer” - quando aparece com um objeto que não é
seu, ao invés de lhe dizer que não se toma o que é do outro; que sem permissão,
não se pega nada, e que o objeto deve ser devolvido.
Limites, em primeiro lugar, têm a ver com a disposição dos
pais em pensar sobre si próprios e sobre seus filhos, no sentido de levar a
sério a experiência do convívio familiar; as necessidades das crianças e o
quanto um problema do filho também reflete um problema dos pais.
Ninguém, ao vir ao mundo, sabe o que é certo ou errado, nem
conhece as consequências de uma coisa ou de outra. Ao nascer, o bebê ainda não
tem uma ética definida. Há um conjunto de regras e condutas socialmente
estabelecidas que o antecedem em sua chegada e na qual ele estará mergulhado.
Mas uma ética pessoal ainda será constituída e somos nós,
adultos, especialmente os pais, que terão a tarefa fundamental de passar aos filhos,
à nova geração, conceitos importantíssimos que conferem ao pequeno ser a sua
humanidade, a sua identidade, a sua subjetividade. É isso o que o ajudará no
estabelecimento das relações sociais, a reconhecer limites, definir o que é seu
e o que é do outro, o que é público e o que é privado, a reconhecer-se como
sujeito individual e coletivo, ao mesmo tempo.
Para
que todo esse processo se formalize, é necessário acreditar que estabelecer
limites é
algo importante e necessário. Acreditar que os limites são organizadores da
vida porque não dizem somente o que não se pode, mas também, diz o que se pode.
Dar limites é ajudar a criança a se organizar, é delinear
com ela um contorno de seu campo de atuação, é cuidar! É esclarecer aspectos da
vida para alguém que ainda não o sabe e não consegue fazê-lo por si só. É
ajudar o filho a iniciar um processo de compreensão (perceber, tolerar, ser
condescendente) e apreensão (preocupar-se com; conhecer; assimilar) do outro em
sua diferença.
(...) É ao adulto que a criança recorre para sentir-se
segura para lidar com uma situação nova e desconhecida. É preciso que os pais
tenham clareza de suas convicções e sejam fiéis a elas, assim é que os pais se
constituem como modelos e podem ajudar o filho a se identificar com eles e
estruturar uma personalidade mais saudável.
Mas se, por outro lado, a criança que, por algum motivo,
não apreende os limites que lhe foram transmitidos, não considera regras e
combinados para suas ações, para seus desejos e suas vontades, quer tudo e já,
tende a desenvolver um quadro de dificuldades que, ao ir se instalando, pode
trazer prejuízos a ela e aos que convivem com ela. Por exemplo:
- Não consegue perceber o outro e não o toma em
consideração;
- Pode se desinteressar pelos estudos e pela aprendizagem
em geral;
- Apresentar dificuldade para lidar com frustrações e com a
necessidade de adiar a satisfação;
-Podem se apresentar muito agitadas, excitáveis,
agressivas, irritáveis.
É uma tarefa árdua, cansativa, mas talvez seja a única
maneira de ajudar a criança a se tornar uma pessoa eticamente responsável,
capaz de lidar com suas frustrações, adiar sua satisfação, de organizar-se e de
reconhecer o outro em sua diferença. (...)
*Psicanalista membro do TRIEP
**Psicanalista membro-fundador do TRIEP