domingo, 4 de outubro de 2015

  No dia 23 de setembro de 2015 realizamos uma palestra do TRIEP, ministrada pela psicanalista Leila Veratti* e acompanhada pela psicanalista Daisy Lino**, com os pais de alunos da EMEB Jânio da Silva Quadros, no Parque Eloy Chaves. O tema - LIMITES: FRUSTRAM, EDUCAM OU TRAUMATIZAM? – foi abordado do ponto de vista da Psicanálise e os pais presentes ao encontro participaram com perguntas, dúvidas e experiências cotidianas com os filhos entre a idade de 4 a 5 anos.
Abaixo, alguns trechos da palestra abordados com os pais.
(...) “Que tipo de pessoa você deseja que seu filho seja?” É uma pergunta importante e que precisa, primeiramente, ser respondida pelos próprios pais, e não de modo vago, mas com precisão. Isso ajudará na hora de decidir ou de observar-se na relação que se estabelece com a criança e o limite.
Por exemplo, digo que quero que ele seja honesto, mas acho graça e o justifico – “foi sem querer” - quando aparece com um objeto que não é seu, ao invés de lhe dizer que não se toma o que é do outro; que sem permissão, não se pega nada, e que o objeto deve ser devolvido.  
Limites, em primeiro lugar, têm a ver com a disposição dos pais em pensar sobre si próprios e sobre seus filhos, no sentido de levar a sério a experiência do convívio familiar; as necessidades das crianças e o quanto um problema do filho também reflete um problema dos pais.
Ninguém, ao vir ao mundo, sabe o que é certo ou errado, nem conhece as consequências de uma coisa ou de outra. Ao nascer, o bebê ainda não tem uma ética definida. Há um conjunto de regras e condutas socialmente estabelecidas que o antecedem em sua chegada e na qual ele estará mergulhado.
Mas uma ética pessoal ainda será constituída e somos nós, adultos, especialmente os pais, que terão a tarefa fundamental de passar aos filhos, à nova geração, conceitos importantíssimos que conferem ao pequeno ser a sua humanidade, a sua identidade, a sua subjetividade. É isso o que o ajudará no estabelecimento das relações sociais, a reconhecer limites, definir o que é seu e o que é do outro, o que é público e o que é privado, a reconhecer-se como sujeito individual e coletivo, ao mesmo tempo.
Para que todo esse processo se formalize, é necessário acreditar que estabelecer limites é algo importante e necessário. Acreditar que os limites são organizadores da vida porque não dizem somente o que não se pode, mas também, diz o que se pode.
Dar limites é ajudar a criança a se organizar, é delinear com ela um contorno de seu campo de atuação, é cuidar! É esclarecer aspectos da vida para alguém que ainda não o sabe e não consegue fazê-lo por si só. É ajudar o filho a iniciar um processo de compreensão (perceber, tolerar, ser condescendente) e apreensão (preocupar-se com; conhecer; assimilar) do outro em sua diferença.
(...) É ao adulto que a criança recorre para sentir-se segura para lidar com uma situação nova e desconhecida. É preciso que os pais tenham clareza de suas convicções e sejam fiéis a elas, assim é que os pais se constituem como modelos e podem ajudar o filho a se identificar com eles e estruturar uma personalidade mais saudável.

Mas se, por outro lado, a criança que, por algum motivo, não apreende os limites que lhe foram transmitidos, não considera regras e combinados para suas ações, para seus desejos e suas vontades, quer tudo e já, tende a desenvolver um quadro de dificuldades que, ao ir se instalando, pode trazer prejuízos a ela e aos que convivem com ela. Por exemplo:
- Não consegue perceber o outro e não o toma em consideração;
- Pode se desinteressar pelos estudos e pela aprendizagem em geral;
- Apresentar dificuldade para lidar com frustrações e com a necessidade de adiar a satisfação;
-Podem se apresentar muito agitadas, excitáveis, agressivas, irritáveis.
É uma tarefa árdua, cansativa, mas talvez seja a única maneira de ajudar a criança a se tornar uma pessoa eticamente responsável, capaz de lidar com suas frustrações, adiar sua satisfação, de organizar-se e de reconhecer o outro em sua diferença. (...)
*Psicanalista membro do TRIEP

**Psicanalista membro-fundador do TRIEP

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

C I C L O   D E   P A L E S T R A S
                                                                                                      
No dia 12 de setembro de 2015, iniciamos o Ciclo de Palestras no TRIEP.
Colocamos na forma de pergunta: Psicanalistas, psiquiatras e psicólogos: como e com o que trabalham? – a temática deste dia.
Trazemos aqui alguns dos aspectos sobre a psicanálise, trabalhados pela colega psicanalista Ana Beatriz T. Facchini*.

Os tratamentos psíquicos de modo geral são nomeados psicoterapias. Criou-se assim uma confusão recorrente por conta disso...
A Psicanálise é uma espécie de psicoterapia?
Freud, em seu artigo de 1904 - “O método psicanalítico de Freud”, focaliza o problema da psicoterapia e, como faz em outros textos da época, afirma que a psicanálise é uma psicoterapia.
Porém, quando ele se referia à psicoterapia era para contrastá-la aos meios curativos físico-químicos existentes na época e, neste aspecto definia a psicoterapia como o tratamento que se inicia na mente, ou o tratamento, seja de distúrbios mentais ou físicos, através de medidas que atuem em primeiro lugar e imediatamente sobre a mente humana.
Seu objetivo foi diferenciar o trabalho que ele realizava das outras psicoterapias racionais e sugestivas vigentes nesse período.
As inquietudes e hesitações humanas foram compreendidas por Freud como decorrência da divisão estrutural do psiquismo em diversos sistemas, com funcionamento regido por um conflito permanente entre forças opostas.
A originalidade freudiana foi demonstrar de que modo o conflito psíquico estava em parte no inconsciente, portanto oculto ao registro psíquico do Eu e a outra parte do conflito, no consciente.
O inconsciente freudiano é absolutamente diferente em relação à psicologia da consciência. Não é o que temos de mais profundo, não é anárquico ou caótico. Não é aquilo que se encontra abaixo do consciente.
Ele é uma forma de articulação com leis próprias e o que o define não são seus conteúdos, mas o modo como opera, impondo a seus conteúdos uma determinada configuração.
O inconsciente é constituído, sobretudo de representações imagéticas e apesar de ser concebido como um lugar psíquico, não significa um lugar anatômico ou corporificável.
Sendo assim, Psicanálise e Psicologia possuem objetos de estudo distintos e a marca diferenciadora é o conceito de inconsciente.
O inconsciente possui natureza inesgotável, e se revela através dos seus efeitos que são: os sintomas, atos falhos, chistes, sonhos, etc..
A regra fundamental do tratamento psicanalítico é a associação livre, ou seja, dizer o que vier à mente e do modo como isso se apresentar ao sujeito.
É se deixar falar para que apareça o não dito, o indizível ou o irrepresentável, e assim irrompa algo que possa ser tomado em consideração pelo analista e pelo analisando e, tornar-se talvez algo elaborado mentalmente.
A fala, na situação analítica não é como o falar do cotidiano que lança mão apenas de recursos de linguagem. No tratamento analítico é considerada uma complexa variedade na comunicação, pois por meio do enquadre analítico se instauram as condições favoráveis ao trabalho do inconsciente e de sua linguagem – que não se restringe exclusivamente à linguagem verbal ou da linguística.
Quem procura uma análise vive um sofrimento, um sintoma que é aquilo que incomoda, provoca desprazer e dor. O sintoma é sinal de que algo se passa, mas não é só patológico, não é apenas fonte de sofrimento: pode ser também uma tentativa de saída para a saúde que garanta certa ordem no sujeito.
Como na análise não se toma objetivamente o sintoma a ser tratado ou eliminado, o paciente, à medida que fala, reconhece seu inconsciente trazido à tona no processo analítico pelo discurso, pensamentos ou palavras que o surpreendem com sua nova possibilidade de teorização e significação.
Sendo assim, dirigindo-se a um sujeito em sofrimento, o tratamento proposto pela psicanálise não será de orientar, aconselhar e muito menos dizer o que deve fazer com a sua vida. Não se trata de positivar todo pensamento nem apelar ao bom senso ou ações óbvias. Por quê?
Porque o paciente já se esforçou bastante antes de chegar a um psicanalista. Já se iludiu com várias construções psíquicas, com várias teorias sobre o seu sofrer, se recriminou, se puniu e tem dificuldades nos seus relacionamentos com o mundo. O paciente não está do jeito que está porque não pensou direito ou lhe faltou ideias. Está assim porque repete a mesma forma de pensar e essas repetições produziram uma ruptura no ponto de equilíbrio de sua vida.


*Psicanalista. Graduada em Psicologia. Especialista em Psicologia Clínica. Membro do TRIEP - Jundiaí.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

segunda-feira, 22 de junho de 2015





"Não respeitamos mais a morte", afirma o psicanalista francês Charles Melman. 

Psicanalista e escritor francês considerado um dos principais seguidores do trabalho de Lacan e Freud, Charles Melman foi escolhido por Lacan para ser um dos dirigentes da École Freudienne de Paris. É também um dos fundadores da Associação Lacaniana Internacional e autor de diversas obras de referência para a psicanálise.