quarta-feira, 27 de janeiro de 2010



Lacan: um convite a reflexão psicanalítica


Jacques-Marie Émile Lacan nasceu em Paris no dia 13 de abril de 1901 e faleceu em 9 de setembro de 1981. De família burguesa e educação extremamente católica, frequentou os melhores colégios, mas debateu-se com fundamentos católicos desde a adolescência seguindo assim por toda sua obra. Formado em medicina, passou da neurologia a psiquiatria e teve seu primeiro contato formal com a Psicanálise em 1951. A partir daí, passou a ocupar-se desta por toda vida, estando em frente à sua mesa de trabalho das 6 horas da manhã às 8 horas da noite. Leitor profundo da obra freudiana publicou sua primeira produção teórica (Escritos) de fato, somente em 1966.
De Lacan, como nos cita Colette Soler, “pintaram-se mil e um retratos contrastantes, sinal de uma transferência generalizada sobre sua pessoa”, mas o fato é que temos um teórico que em todo seu percurso empenhou-se em “denunciar” o quanto os pós-freudianos haviam se desviado da teoria original. Assim, Lacan propôs-se o “retorno à Freud” em busca do resgate da teoria freudiana. Para tal, utilizou-se da linguística, da antropologia e posteriormente da lógica e topologia, passando sempre seus ensinamentos, basicamente, de forma oral em aulas, seminários e conferências.
Marcou a Psicanálise com suas ideias consideradas por muitos como áridas e de difícil compreensão, além de transgressivas, uma vez que opunha-se às regras estabelecidas pela Associação Psicanalítica Internacional, especialmente no que diz respeito ao tempo das sessões e formação de analistas.
Estudar Lacan, de certa forma é retomar Freud, pois é nele que sua teoria encontra fundamentos e tem seu ponto de ancoragem, mesmo que isso não se apresente claramente num primeiro momento.
A reputação da obra lacaniana é de uma obra de difícil acesso, recheada de conceitos herméticos e até inacessíveis, porém, não podemos deixar de lembrar que é a partir de sua obra que derivaram importantes teorizações de pós lacanianos atuais e comuns hoje no estudo da Psicanálise e na prática psicanalítica: André Green, Jean Laplanche, Pontalis, Françoise Dolto, casal Mannoni, Piera Aulagnier entre outros.
Segundo Renato Mezan (Memória da Psicanálise, edição 8), “a psicanálise contemporânea parece viver um pluralismo de idéias” e sem dúvida, os alunos e discípulos de Lacan marcaram e marcam sua presença com novos desdobramentos teóricos, os quais abrem diferentes caminhos para o estudo do inconsciente. Em outras palavras, vários são os psicanalistas que endossam a proposta lacaniana de retorno à Freud e a realizam cada um a seu modo, avançando nas pesquisa de seus antecessores, muitas vezes de forma até mais consistente que seus mestres.
Lacan, que nos anos 70 muitas vezes foi visto como contestador, cada vez mais é estudado em diferentes Instituições. Do estudo crítico do esboço de sua vida às etapas de sua obra que vão desde o simbólico, a linguagem, ao real e sua tentativa de capturá-lo através da topologia e dos nós borromeanos podemos extrair as conseqüências na prática psicanalítica.
Estudar Lacan é estudar paralelamente Freud, além de ser um convite a reflexão psicanalítica da Escola Francesa e de todos seus desdobramentos na atualidade.

SILVIA COARI
Psicanalista convidada do TRIEP para a coordenação do curso Iniciação ao Pensamento de Jacques Lacan.